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Do Jaleco ao Avental do Hospital: Minha Jornada Como Médica e Paciente com Câncer de Mama

  • Foto do escritor: Larissa Nishiwaki
    Larissa Nishiwaki
  • 13 de out.
  • 3 min de leitura
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Por anos, estive do lado de quem cuida. Expliquei inúmeras vezes, com calma e empatia, os impactos do câncer de mama na fertilidade. Falei sobre a importância de congelar óvulos antes da quimioterapia, os efeitos dos tratamentos hormonais no corpo feminino, e reforcei que, sim, ainda seria possível realizar o sonho da maternidade após a doença.


Eu sabia tudo isso. Sabia mesmo. Mas nada me preparou para ouvir que, agora, o diagnóstico era meu.

Aos 43 anos, me vi do outro lado da mesa. Pendurei o jaleco. Troquei o papel de médica pelo de paciente e, com ele, vieram os medos, as vulnerabilidades, as decisões urgentes. Descobri o câncer de forma precoce, é verdade, mas o susto foi enorme. Mesmo com todo o conhecimento que carrego, a notícia me tirou o chão.


Foi um divisor de águas. Como médica, mas principalmente como mulher.

O Impacto do Câncer de Mama na Fertilidade


Sempre orientei minhas pacientes sobre a importância de preservar a fertilidade antes de iniciar o tratamento. E ainda assim, muitas mulheres em idade fértil chegam ao diagnóstico sem sequer serem informadas sobre esse impacto e perdem a chance de congelar seus óvulos ou embriões antes da quimioterapia. É um erro grave.


Outro ponto que precisa ser falado, sem tabu, é a menopausa induzida. Sim, a quimioterapia pode causar uma menopausa abrupta e isso precisa ser explicado com clareza. No meu caso, os sintomas da menopausa se sobrepuseram aos efeitos da quimio e ao meu estado emocional, criando uma verdadeira bagunça na minha cabeça. Eu não sabia o que era o quê.


O tratamento oncológico compromete os ovários: nossos níveis de estrogênio e progesterona despencam. Com isso, surgem sintomas como fogachos, depressão, alterações na composição corporal, perda de massa óssea, entre outros. E o tempo para agir é curto.


Mas existem alternativas. O congelamento de óvulos, por exemplo, é uma técnica segura, eficaz, e pode ser feita em cerca de duas semanas. O ideal é que essa conversa aconteça antes do início do tratamento oncológico. Uma avaliação rápida com um especialista em reprodução humana já é suficiente para entender as opções disponíveis.


E é importante lembrar: nem todo câncer de mama contraindica uma gravidez futura. Muita gente acha que nunca mais poderá engravidar após um diagnóstico desses, mas isso não é verdade. Com o acompanhamento certo, muitas mulheres conseguem realizar o sonho da maternidade, às vezes, sem sequer usar os óvulos congelados. Mas não podemos contar apenas com a sorte. Informação é poder.


Os Sinais Que Você Não Deve Ignorar

Minha experiência também me ensinou a valorizar ainda mais os sinais do corpo. Nem todo câncer de mama se apresenta como um nódulo evidente. Às vezes, é algo sutil: uma mudança na pele, um incômodo, uma intuição.

Eu não tinha histórico familiar relevante. Fazia meus exames de rotina regularmente. Mesmo assim, o câncer apareceu. Isso mostra que ninguém está 100% fora de risco.


Por isso, aproveito para reforçar algumas orientações importantes:

  • Conheça suas mamas: apalpe, observe, note qualquer alteração;

  • Faça seus exames de rotina anualmente — sem adiar;

  • Se tiver histórico familiar, fale com seu ginecologista sobre rastreamento genético e a possibilidade de iniciar os exames mais cedo, por volta dos 30 anos;

  • Nunca minimize sintomas, por menores que pareçam;

  • Ao perceber qualquer sinal fora do comum, procure um mastologista.


Cuidar de Si Também É Prioridade

A maior lição dessa jornada? Aprender a cuidar de mim com o mesmo carinho e atenção que sempre ofereci às minhas pacientes. Como médicas, mulheres, mães, profissionais: estamos sempre colocando os outros em primeiro lugar. Mas a verdade é que saúde é prioridade. Não dá para cuidar de ninguém se a gente não estiver bem.

Hoje, digo isso com mais convicção do que nunca.

Meu retorno ao consultório certamente será diferente. Continuo sendo a médica especialista em reprodução humana, mas agora carrego comigo uma vivência que me transformou profundamente. Passei pela cirurgia, finalizei a quimioterapia, estou prestes a iniciar a radioterapia e sigo aprendendo, todos os dias.

Essa experiência, por mais dura que tenha sido, está me tornando uma profissional mais empática. E, quem sabe, minha história possa ajudar outras mulheres a se cuidarem melhor e mais cedo.

Se eu puder deixar um recado, é esse: se ame com urgência. Se toque, se observe, se escute. E, acima de tudo, se priorize.


Com carinho,


Carla Iaconelli.

 

 
 
 

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